Oscar Niemeyer nunca foi um erudito, nunca lhe interessou as teorias, os jargões, os clichês. Seu traço torto sempre foi preciso. Sempre levou consigo o peso de suas ideais. Ou, talvez, era somente uma ideia que tinha, simples e inocente: presentear beleza ao mundo. E assim o fez. Presenteou mais de quinhentas obras aos homens de diversas nações, durante seus cento e quatro anos de vida dedicados à arte da arquitetura.
O Pavilhão do Brasil para a Expo de Nova York, 1939
Seu professor, Lucio Costa, de tamanha maestria e sensibilidade, recusou sua própria proposta, a vencedora do concurso para o projeto do pavilhão, para elevar o segundo lugar à condição de vencedor. Afastou-se a si mesmo em virtude de uma arquitetura jamais vista. Ali surgia a mão e o gênio de Oscar Niemeyer.
Com o Pavilhão de Nova York surgia uma arquitetura brasileira da graça, da leveza, da exuberância, da sinuosidade, da liberdade. Niemeyer era libre em seu traço. Materializou uma arquitetura inconcebível para os mestres europeus da arquitetura moderna. A julgaram como maneirista, como defeituosa, como infantil. Mas que coisas mais belas fazia o menino Niemeyer. Deixaram todos atônitos.
Pampulha, 1942
Logo veio Pampulha, uma lagoa artificial à espera da mão de Oscar Niemeyer. Suas obras repousam nas margens sinuosas da lagoa. Formam um percurso ao redor dela, entre natureza e arquitetura. A capela de São Francisco, a Casa do Baile, o Iate Clube, e o Cassino, todos projetados por Niemeyer, cada um com suas singularidades, na busca por criar um novo bairro para a cidade de Belo Horizonte. Cada edifício, um traço distinto.
Na Pampulha, Niemeyer gritava aos quatro ventos o nome da arquitetura brasileira. Se fez conhecido. Saiu em muitos livros e revistas internacionais. Teóricos e historiadores fizeram caso a esta nova arquitetura.
Brasília, 1960
Em Brasília, Niemeyer reencontrou seu professor Lucio Costa, que havia ganhado o concurso para a nova capital do Brasil, com nada mais que um par de croquis e algumas linhas de texto. Niemeyer projetou os principais edifícios de Brasília. Costa seu plano piloto. O projeto, a construção e o resultado foram impecáveis.
A Catedral, simples colunas que se apoiam uma nas outras, nada mais. O Congresso Nacional, duas cúpulas espelhadas e duas barras verticais entre elas. Os palácios, pilares esculturais que protegem as grandes varandas perimetrais.
A arquitetura de Oscar Niemeyer é de uma simplicidade desconcertante, de um raro despretensiosismo. Niemeyer foi único. Sua arquitetura poucos puderam seguir, poucos tentaram aproximar-se. Oscar Niemeyer morre aos 104 anos sem nunca haver temido à morte. Talvez era ela que o temia. Deixou ao mundo uma beleza poucas vezes alcançada. O mundo viu poucas vezes um homem tão humano.
*Publicado originalmente em La Tercera.